O fim da vassoura-de-bruxa na produção de cacau

Prof. Dr. Gonçalo A. G. Pereira

A Vassoura de Bruxa foi uma das piores tragédias ocorridas na agricultura brasileira. Levou a região sul da Bahia a um colapso, mas sairá mais forte dessa tragédia.

Em 2000, tínhamos finalizado o Projeto Genoma do Amarelinho da Laranja, um programa concebido e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo – FAPESP, sob a liderança do Jose Fernando Perez, que gerou uma verdadeira revolução científica no país. Então, meu amigo-irmão, Ronaldo Abude Eustaquio da Silva – um empresário brilhante que, juntamente com Nicanor Coelho, construiu do nada uma forte rede de empresas do setor agro: a Módulo Rural – me chamou a atenção para esse desastre. Cidades favelizadas, desemprego tremendo, violência, crianças totalmente desamparadas, um verdadeiro flagelo.

 

A partir desse chamamento, decidimos montar um Programa de Genoma da Vassoura de Bruxa, que agora faz 21 anos. Entendemos a doença, que é extremamente complexa, e acreditamos que finalmente temos a solução. Como rastro do projeto, muitos grupos de pesquisa foram montados e novos laboratórios instalados, principalmente na Bahia. Acho que é um grande exemplo de aproximação entre a academia e o setor produtivo para a resolução de problemas.

Além disso, em 2002 Ronaldo Abude Eustaquio da Silva me propôs comprar uma fazenda: a Porto Novo. Era uma das maiores fazendas de Ilhéus, no seio da Mata Atlântica, e ela estar à venda era o maior sinal da crise da região. Obviamente, como professor, àquela época eu não teria recursos para isso. Mas a proposta era uma assunção de dívida, complemente desproporcional aos meus rendimentos, mas resolvemos arriscar, partir para o tudo ou nada (literalmete; vendi tudo o que eu tinha para comprar uma dívida).

Desde o início percebemos e assumimos, com muito prazer, o nosso compromisso com a mata e as pessoas, que então estavam passando fome. Ontem, 20 anos depois da nossa compra, fiz uma reunião emocionante com os nossos 45 funcionários e parceiros, que hoje têm uma vida digna (simples, com dificuldades, mas digna). Brinco ao ver que alguns dos nossos companheiros, que àquela época lutavam contra a miséria, agora estão, no dizer deles, ricos, com casa(s), carro, moto, imóveis. É o caso do Val, que conhece como ninguém a mata e os passarinhos. Muitos têm os filhos na Universidade, como o William Santana, que tinha 5 anos quando compramos a fazenda e hoje está no meio do curso de agronomia na Universidade Estadual de Santa Cruz, uma excelente universidade que trabalhou e trabalha, muito e de forma determinante, para resolver os problemas da região. William é a nossa nova geração, com enorme conhecimento e amor pela cultura.

Hoje contamos também com uma empresa especializada, a Codinemo, liderada pelo amigo Claudio Silva, que está antenado com as inovações do setor e contribui para colocar a cacauicultura em um novo patamar.

Enfim, se eu tiver que expressar com uma palavra o que sinto, seria FELICIDADE.

Gonçalo.

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